quarta-feira, 1 de março de 2017

DISCOGRAFIA COMENTADA - BLACK SABBATH - OZZY OSBORNE YEARS


BLACK SABBATH - 1970

O ano era 1970. Na chuvosa Inglaterra, estava surgindo o embrião do que seria o que chamamos hoje de, Heavy Metal. O Black Sabbath nos presenteou com um tapa na orelha, um furo nos tímpanos de quem jamais sonhava que poderia existir algo tão sombrio na música, de revolucionar o jeito de se ouvir rock, de mostrar que, o que viria na sequencia dos anos, mudaria completamente a vida de milhões de pessoas, inclusive a deles próprios.
Black Sabbath foi lançado em 13 de fevereiro de 1970, trazendo 7 monstruosidades musicais perturbadoras, capitaneadas pela voz icônica de Ozzy Osborne, que se não primava de técnica e afinação a frente da banda, era abençoado com um carisma sem igual e um timbre de voz impossível de não identificar nas primeiras ouvidas. Tony Iommi por sua vez, impôs uma tessitura de linhas de guitarra que até hoje somente à ele pertence, um som sujo, meio embolado até, pela baixa qualidade de gravação e baixo orçamento da época, o que fatalmente tornou o disco mais sombrio ainda aliado a cozinha maravilhosa de Bill Ward e Geezer Butler. E o que dizer da sombria e nebulosa capa? Influenciados muito pelo Blues e Jazz da época, tentaram trazer isso de alguma forma para as composições, vide o excesso de gaita na faixa "The Wizard" por exemplo. Por fim, esse debut merece todo o destaque por ser o ponto de partida para outras preciosidades ao longo da década e fixar um ponto zero em um estilo que seria amando por inúmeros seguidores ao redor do planeta. Audição obrigatória!

Faixas destaque: Black Sabbath, N.I.B e Behind the Wall Of Sleep. NOTA: 8,5




PARANOID - 1970

Meses (setembro) após o lançamento do primeiro disco, a banda continuou altamente inspirada e divinamente estrondosa, a ponto de lançar o que seria o seu maior clássico de todos os tempos. É sem discussão que, Paranoid foi e ainda é o queridinho dos fãs, e primeira alavancada dos iniciantes ao desbravar a banda. Clássico absoluto! Seguindo a mesma linha de timbragem nas gravações, agora com as guitarras menos emboladas e mais estridentes, o disco se construiu com uma base sólida de feeling da cozinha que é uma das melhores até hoje. Ozzy também tem sua evolução, é nitidamente perceptível notar que sua dicção melhora neste álbum, além de sua voz estar mais "a frente " na mixagem do disco. Notar que ouço estes discos em CD numa edição remasterizada de 2010. Como isso interfere significativamente numa audição se comparado ao disco original, é mesmo uma questão de opinião e percepção pelo material que possuo. Entrando na casa dos riffs, foi daqui que saíram a inspiração e influência para a maioria dos guitarristas das gerações seguintes, Toni é assertivo e perfeito em tudo o que fez aqui, não há nada mais original, perturbador, e influente que os riffs das musicas presentes neste disco. A complexidade de Faires Wear Boots, Iron Man e War Pigs estavam de fato muito à frente daquele tempo. Paranoid é o auge da inspiração do quarteto, o inicio absoluto do reinado do Black Sabbath. Se surgisse mais um álbum dos caras com esta mesma insanidade, criatividade e perfeição, o mundo do rock viria abaixo...Coisa que infelizmente, não aconteceu.

Faixas destaque: War Pigs, Iron Man, Eletric Funeral e Fairies Wear Boots. NOTA: 10


MASTER OF REALITY - 1971

Embora muitas banda de hoje em dia do estilo Stoner, Doom, Sludge, e derivados do gênero se apoiem firmemente neste disco como absoluta fonte de inspiração, ao meu ver, foi um passo atrás dos caras. Tudo bem que seria dificílimo manter o nível do disco antecessor mas, voltamos à uma deficiência técnica do primeiro disco, a gravação. Tudo bem que naquela época era difícil conseguir recursos a ponto de realizar uma bela produção, ainda mais se tratando de rock pesado, porém a banda já estava firmada no cenário  e já possuía dois belos discos no curriculum, por que não dar um tapinha melhor na parte final do trabalho? Bem, isto posto as composições são boas e a pegada dos riffs diminui em relação à Paranoid, mas estão presentes e fortemente construídos e encaixados nos carros chefes do trabalho. A pegada insana das faixas te prende de um jeito interessante, e me pergunto se de repente, alguma música perdida neste trabalho não merecia mais destaque, como After Forever por exemplo. Master of Reality possui apenas 6 faixas se desconsiderarmos as vinhetas Orchid e Embryo porém, apenas não conseguiu manter o nível dos seus irmãos antecessores e esse é seu maior problema na verdade, mas sem dúvidas é um espetáculo à parte desta fase da carreira do Black Sabbath. Children Of The Grave é um hino, ponto!

Faixas destaque: Sweet Leaf, Children Of The Grave e Into the Void. NOTA 7,5


VOL.4 - 1972

O que temos de interessante nesse disco na minha opinião é a primeira digamos, balada do Black Sabbath que realmente repercutiu e se tornou de fato, um hit. Changes é uma canção composta no piano por Ozzy e cia com um belo arranjo, repetitivo?Sim, mas bastante cativante até. Snowblind claro, a queridinha dos fãs é executada a exaustão até na carreira solo de Ozzy nas décadas de 80 e 90. Ao meu ver, este disco poderia render melhores canções, visto as descartáveis Laguna Sunrise e St Vitus Dance, que deveriam ter sido lançadas em um EP hoje em dia como uma raridade e valeriam muito mais. A sombria Under the Sun fecha este álbum com uma energia sombria que só a banda consegue fazer. Com uma produção de qualidade duvidosa e, o abuso das drogas cada vez mais evidentes e retratados em suas faixas, o Black Sabbath chegava a metade de sua carreira da formação original como um alicerce do Heavy Metal sem a menor sombra de duvidas. Embora a capa seja uma das mais marcantes da banda, não
é recomendável que um fã de primeira viagem comece com este disco, ainda assim, é imprescindível em qualquer coleção de rock.

Faixas destaque: Changes, Snowblind, e Cornucópia. NOTA 7,0



SABBATH BLOODY SABBATH - 1973

Um dos meus favoritos da banda em toda sua discografia, arranjos mais complexos, composições firmes e uma gravação com um trabalho final mais consistente de ponta a ponta, Coisa que senti falta nos dois discos anteriores. A voz de Ozzy começa a presentar um timbre diferente ainda que pouco perceptível à maioria dos ouvintes. Um peso absoluto em algumas faixas, destaque total para faixa título, com um alcance vocal impressionante de Ozzy poucas vezes executado em shows, posteriormente. Guitarra e baixo de arrepiar. destaco ainda como faixas obrigatórias: A National Acrobat, Killing Yourself to Live e Sabbra Cadabra. Até os dias de hoje, é um dos discos mais procurados da banda e não por menos...Sabbath Bloody Sabbath tem o que se espera ouvir sempre nos discos da banda. Aqui estão presentes parte das melhores canções já feitas pela banda nessa primeira fase. Totalmente indicado, Jogo ganho!

Faixas destaque: A National Acrobat, Killing Yourself to Live, Sabbath Bloody Sabbath e Sabra Cadabra.  NOTA 9,0


SABOTAGE - 1975

De todos os discos desta primeira fase da banda, Sabotage foi sempre o que menos gostei. Sinto que falta algo nas canções ou talvez até no trabalho final deste play. A voz de Ozzy está estridente em demasia, considerando que ele nunca foi um primor no quesito afinação, outras características se sobressaem cobrindo este ponto fraco do vocalista. Uma das coisas que também se perde ao longo dos trabalhos mas que fica mais evidente aqui são as linhas de baixo de Gezzer. As escolhas duvidosas de alguns arranjos (I´m Going Insane? por exemplo) dá a deixa de que dias piores viriam, e as canções encorpadas e recheadas de riffs que outrora faziam parte do DNA do Black Sabbath, já não é tão soberano assim, ou melhor, praticamente deixa e existir. Em resumo, na minha opinião, musicalmente falando, é o filho bastardo desta fase da banda. Vale pela Symptom Of The Universe, que é de fato, um petardo!

Faixas Destaque: Symptom Of The Universe e Hole In The Sky. NOTA: 6,0



TECHNICAL ECSTASY - 1976

A verdade é que esse poderia ser um disco de qualquer banda de Stoner rock/metal de hoje em dia. Tem todos os elementos pra isso, mas se trata do Black Sabbath e não de uma banda qualquer. O álbum passa praticamente desapercebido em meio a discografia geral da banda. É inserido neste disco também uma grande quantidade de piano/hammond ou sei lá que sintetizador foi utilizado. A dependência química especialmente de Ozzy fez com que a banda perdesse seu rumo pouco a pouco, o que claramente percebemos no decorrer da segunda metade dos anos 70 principalmente. No disco, Momentos beirando o progressivo com uma cadência interessante acontecem em Gypsy, All Moving Parts tem uma construção interessante e é uma das melhores do disco. No geral, Technical Ecstasy é mais um disco sem muita inspiração assim como seu antecessor, mas sem dúvida é muito mais ousado e inteligente. A audição não é tão difícil porém, precisamos de algumas ouvidas para assimilar melhor o trabalho que não é de todo ruim. Pra fugir do clichê de sempre, eu recomendo uma bela escutada atenta num bom fone de ouvido ou numa plataforma de qualidade. É um disco regular para bom.

Faixas Destaque: All Moving Parts e Dirty Women. NOTA: 6,5   


NEVER SAY DIE - 1978

Último disco desta década com Ozzy nos vocais. O grupo já degringolava no seu relacionamento entre integrantes, tornando públicos os problemas com álcool e drogas. As composições cada vez mais fracas e nitidamente feitas para cumprir contrato dos álbuns finais deixam bem claro isso. Never Say Die mantém a pegada "não fede nem cheira" dos últimos discos mas, ao menos tem consistência graças a boa pegada da cozinha da banda. É menos inteligente que Technical Ecstasy e mais enérgico e linear que Sabotage, ficando assim no meio dos dois. Never Say Die dá adeus as vocais de Ozzy e inicia uma nova era no Black Sabbath recheada de grandes acertos e equívocos. Dá inicio também a promissora e rentável carreira solo do Mad Man. Mas isso é assunto pra outra resenha. Disco regular.

Faixas Destaque: Never Say Die e Swinging The Chain. NOTA 6,5


13 - 2013

A mais que bem-vinda volta dos monstros criadores do Heavy Metal foi não mais que perfeita! Não há o quê contestar a não ser a ausência de Bill Ward que por questões técnicas ficou de fora da reunião definitiva. Isto posto, Brad Wilk (Rage Against The Machine) deu conta do recado na gravação do disco e Tommi Clufetos arregaça nos shows ao vivo. Os velhinhos não perderam o feeling e o primor das composições, os riffs parecem aflorar novamente nas veias de Iommi. Gezzer está com uma pegada absurda desferindo patadas no seu baixo e Ozzy, mesmo limitado pelo tempo e pela sua desgastada voz, nos faz viajar nesse trabalho sensacional digno de aplausos. As introduções matadoras de End Of Beginning e God Is Dead? reacenderam a chama dos mais desesperados. A produção é impecável e eu ainda me arrepio com esse play, escrevendo tudo isso aqui e ouvindo ele, incorporando cada nota desferida da guitarra e cada voz duplicada e amplificada. Uma obra de respeito, pena talvez, a última. Nos tempos onde a música anda tão descartável e tudo que tenham mais do que 3 minutos se torna uma eternidade para se ouvir, 13 vem para silenciar uma leva de pessimistas e pseudo-críticos. Clássico absoluto fora de sua real órbita e linha de tempo. Recomendadíssimo, caso você ainda seja louco de não tê-lo ouvido inteiro.

Faixa Destaque: God Is Dead, Loner, Peace Of Mind, Pariah e Damage Soul. NOTA: 10